Pós-Milenismo
I. DEFINIÇÃO
“O pós-milenismo espera que a proclamação do…
evangelho… ganhe a vasta maioria dos seres humanos para Cristo na presente era.
O aumento do sucesso do evangelho produzirá gradualmente um tempo na história
antes do retorno de Cristo no qual a fé, justiça, paz e prosperidade
prevalecerão nos assuntos do povo e das nações. Após uma extensa era de tais
condições, o Senhor retornará visível e corporalmente, e em grande glória,
terminando a história com a ressurreição geral e o grande julgamento de toda a
humanidade.”
II. A POSIÇÃO
A. O REINO PRESENTE DE CRISTO:
O pós-milenismo vê o reino de Deus como uma realidade presente e em
desenvolvimento.
B. OTIMISMO: Ele descansa na
crença que a pregação do evangelho terá tanto sucesso que o mundo será
convertido e desfrutará de um longo período de paz e prosperidade chamado o
milênio. Diferente das outras visões, o pós-milenismo espera que as condições
fiquem melhor no tempo precedente ao retorno de Cristo.
C. GRADUALISMO, NÃO CATACLISMO:
A vinda do milênio é um processo gradual, diferindo apenas quantitativamente do
que vem antes. Jesus mesmo falou do Reino como uma realidade presente, e de sua
dispersão gradual por todo o mundo.
D. CRISTO RETORNA APÓS O MILÊNIO:
Após o “milênio” (que é de duração indeterminada), Satanás será solto por um
breve tempo e incitará uma rebelião (Ap. 20:7-9). Então Cristo retornará os
mortos serão ressurretos, e o julgamento final ocorrerá.
III. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO PÓS-MILENISMO
A. PÓS-MILENISMO ANTIGO.
1. Nenhum credo antigo afirma qualquer visão
milenista específica.
2. Nenhuma escatologia desenvolvida é
encontrada em qualquer um dos Pais da Igreja.
3. O pré-milenismo se desenvolveu de certa
forma um pouco antes do pós-milenismo (e.g., Irineu, 130-202 d.C.), provavelmente
como resultado da perseguição que encorajava a expectação do retorno iminente
de Cristo. Todavia, aproximadamente no mesmo tempo Orígenes (185-254 d.C.)
expressou uma visão pós-milenista.
4. O pós-milenismo se tornou dominante após
Constantino (312 d.C.) – Eusébio (260-340), Atanásio (296-372), Ticonius
(aprox. 400), Agostinho (354-430) – tão dominante que a crença num milênio foi
condenada como supersticiosa no Concílio de Éfeso (431 d.C.). Embora a doutrina
oficial da igreja fosse amilenista ou pós-milenista, o pré-milenismo aparecia
de tempo em tempo devido às condições sociais opressivas.
B. PÓS-MILENISMO DA REFORMA: SÉCULOS 16 e 17.
1. OS REFORMADORES
O pós-milenismo foi incipiente em
João Calvino (1509-1605), e expresso com grande clareza por Martin Bucer
(1491-1551) e Teodoro Beza (1519-1605).
2. OS PURITANOS
a. TEÓLOGOS PURITANOS ANTIGOS: Thomas
Brightman (1562-1607), um pai do Presbiterianismo inglês, escreveu um
comentário influente, A Revelation of the Revelation [Uma Revelação do
Apocalipse], no qual ele apresenta o pós-milenismo em detalhe. Outros puritanos
eram pós-milenistas, incluindo, George Gillespie (1613-49), John Owen (1616-83)
e Matthew Henry (1662-1714).
b. O LUGAR DE ISRAEL NO PÓS-MILENISMO
PURITANO: Os puritanos tendiam a crer que o milênio duraria 1000 anos literais,
e que ele não começaria até os judeus serem convertidos. Muitos sustentavam que
eles retornariam à sua terra nesse tempo.
c. PÓS-MILENISMO MODERNO:
SÉCULOS 18 a 20
1. PÓS-MILENISTAS PROEMINENTES: Jonathan
Edwards (1703-58), William Carey (1761-1834), Charles Hodge (1797-1878), A. A.
Hodge (1823-1886), Augustus Strong (1836-1921), B.B. Warfield (1851-1921), J.
Gresham Machen (1881-1937).
2. DIFERENÇAS DOS PÓS-MILENISTAS
ANTIGOS
a. Não sustentavam que os judeus retornariam à
sua terra como um cumprimento de profecias.
b. Criam que o milênio abrange toda a história
da igreja.
3. UM DESENVOLVIMENTO RECENTE:
“RECONSTRUCIONISMO CRISTÃO”, também conhecido como “PÓS-MILENISMO TEONÔMICO” ou
“NEO-PURITANISMO” (década de 1960 em diante).
a. Prenunciado na Confissão de Fé de
Westminster e por teólogos de Westminster tais como George Gillespie.
b. Espera um retorno gradual às normas
bíblicas de justiça como resultado da dispersão do evangelho. As leis do Antigo
Testamento seriam novamente observadas, embora propriamente interpretadas e
adaptadas às condições do novo pacto.
c. É preterista, colocando o cumprimento das
profecias da tribulação no primeiro século.
IV. EVIDÊNCIA EXEGÉTICA PARA O PÓS-MILENISMO
A. OS SALMOS MESSIÂNICOS: A visão do Novo Testamento que eles já foram
cumpridos.
1. Sl. 22:27 – Aguarda um tempo quando “todos
os limites da terra se lembrarão, e se converterão ao SENHOR; e todas as
famílias das nações adorarão perante a tua face”.
2. Sl. 47:7-9 – “Pois Deus é o Rei de toda a
terra… Deus reina sobre os gentios… Os príncipes do povo se ajuntam, o povo do
Deus de Abraão; porque os escudos da terra são de Deus. Ele está muito
elevado!”.
3. Sl. 67:2, 7 – A salvação de Deus será
conhecida entre todas as nações (v.2) e todas as extremidades da terra o
temerão (v. 7).
4. Sl. 86:9 – Todas as nações virão e
adorarão.
5. Sl. 87:4 – Os inimigos serão convertidos.
6. Sl. 102:15 – Todos os reis o reverenciarão.
7. Sl. 110:1 – O Messias ficará assentado no
céu até que os seus inimigos se tornem estrado dos seus pés (o versículo do
Antigo Testamento mais citado no Novo Testamento!, citado em Mt. 22:44, 26:64,
Mc. 12:36, 14:62, Lc. 20:42-43, 22:69, Atos 2:34-35, Hb 1:13, e aludidos em
1Co. 15:24, Ef. 1:20-22,
Fp. 2:9-11, Hb. 1:3, 8:1, 10:12, 13, 1Pe.
3:22, e Ap. 3:21).
8. Sl. 72 - fala do reino do Messias (não
meramente o de Davi ou de Salomão), e o faz num tempo antes da consumação da
história e do estabelecimento dos novos céus e nova terra:
“Temer-te-ão [ao Rei] enquanto
durarem o sol e a lua, de geração em geração. Ele descerá como chuva sobre a
erva ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra. Nos seus dias florescerá
o justo, e abundância de paz haverá enquanto durar a lua. Dominará de mar a
mar, e desde o rio até às extremidades da terra. Aqueles que habitam no deserto
se inclinarão ante ele, e os seus inimigos lamberão o pó. Os reis de Társis e
das ilhas trarão presentes; os reis de Sabá e de Seba oferecerão dons. E todos
os reis se prostrarão perante ele; todas as nações o servirão (5-11) … O seu
nome permanecerá eternamente; o seu nome se irá propagando de pais a filhos
enquanto o sol durar, e os homens serão abençoados nele; todas as nações lhe
chamarão bem-aventurado. Bendito seja o SENHOR Deus, o Deus de Israel, que só
ele faz maravilhas. E bendito seja para sempre o seu nome glorioso; e encha-se
toda a terra da sua glória.” (17-19)
9. Sl. 2 - fala das nações se
enraivecendo “contra o Senhor e contra o seu ungido” (v. 1-3). Pedro interpreta
isso como tendo ocorrido na crucificação (Atos 4:25-27). Todavia, Deus instalou
esse Ungido como o “meu Rei” (Sl.2:6). O Messias mesmo diz: “Proclamarei o
decreto: o Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Sl. 2:7). Paulo
interpreta isso como tendo acontecido na ressurreição de Cristo (Atos 13:33,
cf. Rm. 1:4). Agora, tudo o que o Messias entronizado precisa fazer é “pede-me,
e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão”
(Sl. 2:7). De acordo com isso, Cristo ordena aos seus discípulos: “Ide e fazei
discípulos de todas as nações” (Mt 28:19).
B. OS PROFETAS E O GOVERNO UNIVERSAL DE DEUS:
A visão do Novo Testamento que
ele já começou. Tanto Is. 2:2-4 como Mq. 4:1-3 prevê um tempo de adoração
universal a Deus:
“E acontecerá nos últimos dias
que se firmará o monte da casa do SENHOR no cume dos montes, e se elevará por
cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações. E irão muitos povos, e
dirão: Vinde, subamos ao monte do SENHOR, à casa do Deus de Jacó, para que nos
ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a
lei, e de Jerusalém a palavra do SENHOR. E ele julgará entre as nações, e
repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em enxadões e
as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação,
nem aprenderão mais a guerrear."
De acordo com o Novo Testamento,
os “últimos dias” começaram com a primeira vinda de Cristo (Atos 2:16-17, 24;
1Co. 10:11; Gl. 4:4; Hb. 1:1-2; 9:26; Tg. 5:3; 1Pe. 1:20; 1Jo. 2:18; Judas 18)
e continuarão até a sua segunda vinda, que será “o fim” (1Co. 15:24; cf. Mt.
13:39-40, 49).
Nenhum período é contemplado após isso.
No Novo Testamento “o monte”, a “casa do Deus
de Jacó”, e “Sião” refere-se à igreja (“templo de Deus” – 1Co. 3:16; 6:19; 2Co.
6:16; Ef. 2:19- 22; 1Pe. 2:5; “casa de Deus” – 1Tm. 3:15; Hb. 3:6; 1Pe. 4:17;
“Sião”designa o governo de Cristo desde os céus – Gl. 4:25-26; Hb. 12:11;
Ap.14:1)
C. AS PARÁBOLAS DO REINO (Mt.
13):
Sua dispersão gradual, mas
universal. A parábola da semente (13:3-23) indica tremendo crescimento do reino
(“trinta, sessenta, cem”); a parábola do trigo e joio (13:24-30, 36-43, 47-50)
indica que o reino sempre incluirá uma mistura de justos e injustos; a parábola
do tesouro escondido e da pérola de grande preço (13:44-46) fala das bênçãos
incalculáveis do reino; e as parábolas da semente de mostarda e do fermento
(13:31-33) descrevem o crescimento gradual e o domínio último do reino, a
semente de mostarda indicando a extensão gradual do reino no mundo, e o
fermento indicando sua infiltração intensiva.
D. A GRANDE COMISSÃO:
A autoridade presente de Jesus
(Mt. 28:18-20). A Grande Comissão é uma clara referência a Daniel 7:14, onde,
após o Filho do Homem ascender ao Ancião de Dias, “foi-lhe dado o domínio, e a
honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem”.
E. O TEMPO DOS EVENTOS
DELINEADOS POR PAULO EM 1Co.15:20:28:
A ressurreição ocorrerá após o reino vitorioso
de Cristo. A ordem dos eventos nessa passagem está de acordo com a
interpretação pós-milenista: ressurreição de Cristo (20, 23), seu presente
reino até que todos os seus inimigos sejam subjugados (25), então sua
destruição da própria morte (26) quando, em seu retorno, ele ressuscitará todos
que pertencem a ele (23). Então o fim virá, quando ele entregar o reino a Deus
Pai, tendo destruído todo o domínio, autoridade e poder (24). Em contraste ao
esquema pré-milenista, a ressurreição dos justos ocorrerá após Cristo ter
subjugado todos os seus inimigos e imediatamente antes do fim. Isso se
harmoniza perfeitamente com as expectações pactuais e proféticas do Antigo
Testamento – e com a esperança pós-milenista.
V. O QUE DIZER SOBRE APOCALIPSE
20?
Essa única passagem tem obscurecido passagens
bem mais claras (tais como aquela que a precede, bem como 1Ts. 4:13-18), e tem
sido a base para impor um esquema pré-milenista sobre o restante da Escritura.
Todavia, esse é o único lugar na Escritura que associa um período de 1000 anos
com o reino de Cristo, e ocorre num livro altamente figurativo. Como o
pós-milenista interpreta Ap. 20?
A. 1000 É UM SIMBOLO DE PERFEIÇÃO, e o reinado
de 1000 anos de Cristo não é mais literal do que a possessão de gado por Deus
em mil colinas (Sl. 50:10), a promessa que Israel um dia seria mil vezes mais
numeroso (Dt. 1:11), seu amor a mil gerações (7:9), o desejo do salmista de
estar nos átrios de Deus por mil anos (Sl. 84:10), ou textos comparando mil
anos de nosso tempo com um dia de Deus (Sl. 90:4, 2Pe. 3:8).
B. O APRISIONAMENTO DE SATANÁS EM 20:1-3
CORRESPONDE AO APRISIONAMNENTO DE SATANÁS POR CRISTO EM SEU PRIMEIRO ADVENTO
(cf. Mt. 12:28-29: a mesma palavra para “prender” [deo] e “expulsar” [ekballo]
é usada nos dois lugares). Satanás é
preso para que não possa mais “enganar as
nações [ta ethne – i.e., gentios] até que os mil anos tenham terminado.” Antes
da vinda de Cristo e a dispersão do evangelho, os gentios estavam em trevas.
C. REINANDO COM CRISTO DESDE OS CÉUS ESTÃO OS
MORTOS E OS VIVOS. É DITO QUE AMBOS VIERAM À VIDA. ESSA É UMA RESSURREIÇÃO
ESPIRITUAL.
“E vi as almas daqueles que foram degolados
pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta”.
As passagens de 1Jo. 3:14, Rm. 6:8, Ef. 2:4-6 e Cl. 2:13 falam dos cristãos
como já tendo “vindo à vida” em Cristo. E Ef. 2:6, 1Co.3:21-22 e Cl. 3:1-2
falam deles como já espiritualmente entronizados com Ele no céu.
D. OS OUTROS MORTOS NÃO PARTICIPAM DESSA
RESSURREIÇÃO ESPIRITUAL, MAS VÊM À VIDA SOMENTE APÓS OS 1000 ANOS (Ap. 20:5).
Nesse tempo, eles serão ressuscitados fisicamente.
E. ESSA NOÇÃO DE UMA RESSURREIÇÃO GERAL DOS
JUSTOS E INJUSTOS OCORRE EM OUTROS LUGARES TAMBÉM: Jo. 5:24-29 fala de uma ressurreição
geral, mas de uma ressurreição espiritual paralela que ocorre nesta vida. Uma
ressurreição geral é mencionada em Jó 19:23-27, Is.26:19, Atos 24:15, Rm. 8:11,
23, Fp. 3:20, 1Ts. 4:16.
VI. CONCLUSÃO:
A visão de Ezequiel de um rio da
vida emanando do templo e de Jerusalém, e fazendo com que a vida marina e
botânica abundem, inclusive adoçando a água do mar (Ez. 47:1-12), é uma figura
do milênio.
Matéria: Escatologia
Integrantes do Grupo: Felipe
Mallet, Carlos Henrique Mallet, Hélio Ribeiro, Luciano Monteiro, Ângelo Marcio,
Jardim, Alessandra Jardim e Lies Alves
Nenhum comentário:
Postar um comentário